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Sou como poetizou Cecília Meireles " a esquerda de quem entra, um coração pulsante no mundo". Tenho teorias, questionamentos, mas prefiro ficar momentaneamente com o princípio da fascinação. Estou em busca de um significado plausível do que é a vida.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Dupla concepção



Ouço sons desconexos. Minha pupila se dilata em busca de alguma imagem que faça tudo aquilo ter algum sentido. Meus olhos ainda ardem perante a secura daquele ambiente hostil. Não sei ao certo quanto tempo permaneci aqui desmaiada, mas se eu pudesse contabilizar arriscaria dizer que fiquei naquele estado de inércia por umas longas horas. O vento frio corta o meu peito e junto com essa dor a minha consciência lateja em busca de respostas que os meus cinco sentidos não conseguem diagnosticar. Um sentido apenas, que consiste no último da minha lista de afinidade e que se constitui como sexto no dicionário cerebral dos seres humanos, me diz que o que quer que seja realizará o extermínio quando passar. Desesperada e inundada por uma onda de adrenalina movo o meu corpo em uma só direção, procurando ser linear em todos os meus passos. Porém nesse momento a fraqueza foi maior do que todos os meus adversários. Não resisti. Caí de joelhos, sem forças, sem desejos, sem ambições, mas com muita esperança. É a mesma esperança que fez com que eu me reerguesse, mexesse meus pés, minhas mãos e meus dedos. Aos poucos consegui entrar em movimento e andei feito um quadrúpede, porém com certa dificuldade. Não suportaria isso por muito tempo. Crescentemente meu pânico chegou a um ponto clímax. O céu havia ficado negro. Raios jorravam em todas as direções de forma violenta e abrupta. Vi minha vida se desvanecer nesse momento.

Como muitos perante a morte revivi todos os momentos de minha vida. Os bons, os ruins, os cômicos, os inusitados (....) Lembrei de quanto tempo perdi chorando por questões que eu nem acreditava tanto. Derramei lágrimas de saudade perante a ausência de mim mesma. Recordei as lições que tirei de minha vida e cheguei a um impasse, que merecidamente pode ser chamada de conclusão " nunca somos os mesmos".
Se pudesse mudar algo, mudaria apenas o fato de eu não saber como vim parar nesse lugar tão seco, escuro e coberto de abutres e praticamente sem nenhum tipo de vida visível. Meu corpo lentamente vai perdendo a sua força, como se o ar tivesse ficado mais pesado.

Combustão.


Como alma agora vejo meu corpo estirado ao chão. Mas não é em um deserto em que ele se encontra, mas em um quarto que logo identifico como sendo de minha hospedeira. Possui um cheiro muito forte de vazamento de gás segundo a minha memória logo me informa. E lá fora algo de muito assustador está acontecendo. É um dilúvio.

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